A Definição De Um Norte
Abordar o tema maquiagem é um desafio complexo, pois ela está relacionada a significados, finalidades e sentidos diversos. Ao longo da história, este recurso estético tem se firmado e se reinventado de diferentes formas, embora, nestes dois últimos séculos, tenha se consolidado como parte da identidade feminina, para alguns grupos de pessoas — e é justamente sobre este recorte que vamos dedicar nossa atenção.
Penso ser indispensável iniciarmos nossa trilha lançando mão do que a filósofa, educadora e escritora brasileira Lúcia Helena Galvão estimula em suas palestras e aulas: compreendermos a origem dos termos, o entendimento dos contextos. Ao compreender a raiz de algo, podemos rever conceitos, questionar preconceitos e construir um pensamento mais crítico e autônomo. Vamos lá, então, para o primeiro mergulho.
Um Mergulho No Tempo
O uso de produtos para alterar a aparência é uma prática que está nos primórdios da humanidade. Evidências arqueológicas, datadas de mais 300.000 anos, foram encontradas na Zâmbia Central, em trabalho conduzido pelo pesquisador Lawrence Barham, professor do Centro de Pesquisa Evolucionária Humana do Departamento de Arqueologia da Universidade de Bristol. Dentro de um leque de finalidades, a maquiagem é reconhecida como prática ancestral associada a rituais religiosos, culturais e de identidade social. Evoluiu ao longo da história até se consolidar como um elemento estético marcante.
No século XX, com a entrada das mulheres no mercado de trabalho e movimentos como a liberação feminina nos anos 1920, ela se tornou um símbolo de modernidade, rebeldia e independência. Eventos como a Segunda Guerra Mundial e o pós-guerra reforçaram sua presença, ora como meio de manter a autoestima em tempos difíceis, ora como expressão de padrões de beleza idealizados. A partir dos anos 1960, com a ascensão da contracultura e do feminismo, a maquiagem passou a refletir não apenas individualidade e empoderamento, mas também conformidade a padrões estéticos. Por isso mesmo, lhe farei uma pergunta:
Você Sabe o Que é Maquiagem?
Pode parecer muito “óbvio” este questionamento; porém, isto pode não estar tão claro para muitas pessoas e veremos, realmente, se está para você.
O primeiro exercício que faremos aqui é o delicado processo de identificar o que é maquiagem e também perceber que sobre ele há um sentido aplicado; uma intenção. Como assim!?
Maquiagem é um composto de substâncias químicas e naturais formulado com diversos componentes, como pigmentos, óleos, fragrâncias, ceras, emolientes e conservantes, que interagem com a pele de diversas maneiras. Isto é o que ela é. Já o uso da maquiagem atende à finalidade de alterar a aparência de uma pessoa, realçar características faciais ou protegê-la. Estamos aqui, portanto, falando de elementos distintos, embora sejam intimamente interligados.
A combinação “do que” maquiagem é com a “finalidade” para a qual é utilizada, reforça o sentido que o ser humano elabora dentro de si sobre este material. Isso porque Sentido, no contexto psicológico, refere-se à atribuição de um significado subjetivo a uma experiência, objeto, evento ou relação. É a forma como cada indivíduo interpreta e compreende o mundo ao seu redor, moldada por suas experiências passadas, valores, crenças, emoções e conhecimentos.
O sentido que uma pessoa atribui a uma cadeira, por exemplo, pode variar: pode ser um objeto de conforto, um símbolo de status, uma lembrança de infância, entre outros. Vai além do significado cognitivo! É por isso que devemos observar o tema com sensibilidade.
A partir de uma determinada experiência, o ser humano começa a criar uma relação de identificação com isto à medida que lhe atribui valores, que obtém ganhos diretos ou indiretos e sente que suas necessidades humanas universais foram atendidas.
Muita atenção a esta linha tênue porque é nela que se baseia o pilar central das reflexões deste artigo. Estamos expandindo o olhar sobre o que seria um mero material cosmético e começamos a entrar na subjetividade humana; em como as pessoas aplicam sentido ao uso da maquiagem, seus interesses e necessidades. Vamos além.
Necessidades Universais Moldam Comportamentos e Reações
No artigo que publicamos, intitulado “Filhos Não Possuem Manual”, falamos sobre como os nossos comportamentos e decisões estão relacionados a termos atendidas nossas necessidades universais. Esta perspectiva está muito bem embasada na abordagem psicológica da “Comunicação Não Violenta” (CNV), desenvolvida pelo psicólogo norte-americano Marshall Rosenberg.
Segundo Marshall (1999), as necessidades são os motivadores por trás de nossos comportamentos. Elas representam aquilo que nos impulsiona a agir de determinada forma, buscando satisfação e bem-estar. São apresentadas como universais porque todos os seres humanos as possuem. E em uma fala profunda em seu livro “Comunicação Não Violenta: Técnicas para aprimorar relações pessoais e profissionais”, ele descreve:
“Quando concentramos nossa atenção nos sentimentos e necessidades das outras pessoas, percebemos nossa humanidade em comum. Quando escuto que ele está receoso e quer se proteger, reconheço que também tenho a necessidade de me proteger e que também sei como é sentir medo. Quando minha consciência se concentra nos sentimentos e necessidades de outro ser humano, enxergo a universalidade de nossa experiência.” — Marshall Rosenberg (1999)
As necessidades universais, portanto, não são atributos apenas de pessoas em fase adulta — ou de um ou outro indivíduo. É inerente a todo ser humano. Infância, adolescência, idade adulta e velhice nada mais são do que manifestações de um mesmo ser (essência). Em cada uma delas, este ser expressa suas potencialidades de forma diferente — assim como as suas vivências são interpretadas em níveis de percepção distintos.
Nisso, há um exercício indispensável que devemos fazer: percebermos quão sensíveis são as estruturas cognitivas, mentais e emocionais das crianças para lidarem com estímulos complexos da vida.
Período Infantil: Uma Estrutura Mental Sensível
Uma pessoa que está no estágio infantil não possui recursos psicológicos e emocionais para lidar com a dinâmica da vida com a mesma desenvoltura de um adulto. Em pesquisa mais aprofundada sobre o tema, me deparei com artigos científicos — além de matérias e publicações jornalísticas — que tornam explícita a afirmação de que a mente, no estágio infantil, é muito sensível a sugestionabilidades. Além disso, reforçam o dever que pais, cuidadores e a sociedade civil têm de preservar o processo natural de evolução do ser.
Veja um trecho da publicação “Adultização Infantil”, elaborada pela Associação Beneficente dos Professores Públicos Ativos e Inativos do Estado do Rio de Janeiro (APPAI).
A Mestre em Psicanálise, Saúde e Sociedade e especialista em Neurociência Cristiane Guedes explica que a adultização infantil consiste em experiências inadequadas para o desenvolvimento da criança, que estão diretamente relacionadas com o processo de aceleração da infância e da pré-adolescência. “São estímulos a comportamentos que destoam da sua idade cronológica e emocional, promovendo a aceleração das fases do desenvolvimento infantil, sem que se tenha a vivência, por falta de estimulações adequadas para a idade. O que leva as crianças a entrarem na realidade dos mais velhos sem reservas emocionais ou sem o desenvolvimento físico e psicológico adequados para viver essas experiências que não são reais, pois são do mundo do adulto”, afirma. — APPAI (2023)
É importante contextualizarmos este cenário. Não se trata de utilizar ou não utilizar um componente químico artificial. O imprescindível é dialogarmos, de forma transparente, sobre o fato de que estamos introjetando no fase infantil um elemento criado por adultos para atender a necessidades estéticas, ideológicas e emocionais do universo adulto. O contexto do elemento “maquiagem” está direta e indiretamente vinculado a buscas psicológicas e emocionais das fases juvenil, adulta e idosa, porque nestes estágios os interesses do ser humano possuem uma elaboração mais complexa e repleta de sentidos mais elaborados.
Por estes motivos, salvaguardar a saúde mental e o bem-estar das crianças é um movimento que se mantém em avanço contra uma cultura de adultização antecipada. O Guia de Orientação sobre Prevenção à Sexualização Precoce na Primeira Infância, publicado pelo Ministério da Cidadania (2022), reforça que “a criança é vista sob um olhar holístico, em que há integração entre aspectos que se relacionam na constituição do seu eu.” Isso significa que, desde as primeiras idades da encarnação, é preciso enxergar o ser que está criança como alguém que recebe, a todo instante, diversos estímulos e isso, aos poucos, vai moldando a forma como ela se autopercebe e se identifica nas fases futuras.
Admitindo a infância como momento crucial, percebe-se que “desde o nascimento até os cinco anos de idade as crianças desenvolvem ‘capacidades fundamentais’ sobre as quais o resto de seu desenvolvimento será construído.” (EVANS & KOSEC, 2011, p. 2). Assim, o desenvolvimento integral da criança é um dos assuntos mais importantes quando o tema é primeira infância, pois a criança é vista sob um olhar holístico, em que há integração entre aspectos que se relacionam na constituição do seu eu. Sendo esses: social/afetivo, cognitivo, físico/motor e linguagem. — Ministério da Cidadania (2022)
Diferentes Personalidades, Diferentes Contextos
O nosso cuidado aqui é chamar atenção de que, não se trata de liberar o uso de algo que “sai com água”… trata-se de algo que se fixa à mente, à formação de identidade, à autopercepção que o indivíduo constrói, dia a dia, no espaço de tempo entre o aplicar e o lavar.
Frases como “o simples uso de uma maquiagem” merecem ser repensadas por nós, porque absolutamente nada que envolve os aspectos biológico, psicológico, social e de espiritualidade em um ser humano é simples.
Há crianças que não demonstram fixação pelo uso destes artifícios estéticos e para estas o pintar a si mesma e outro familiar ou coleguinha poderá ser uma ocasião pontual que ganhará o contorno e orientação de que foi uma brincadeira não rotineira; já outras, demonstram um interesse muito acentuado para a própria estética e, neste cenário, os pais e cuidadores têm um desafio de educar-se quanto aos impactos destes estímulos para não concederem ou fomentarem práticas que resultarão em uma deteriorização da autoimagem na criança.
A causa desta diversidade interesses possui inúmeros fatores e devem ser observados dentro da individualidade e subjetividade de cada pessoa em fase infantil — e da relação e influência familiar, claro. No entanto, “não há efeitos sem causa”; já afirma um pilar do pensamento científico e filosófico.
Para demonstrar os impactos disso, de forma mais direta, analisaremos algumas das principais necessidades emocionais do ser humano e como o uso de maquiagem, na fase infantil, pode gerar verdadeiros “borrões”.
Maquiagem: O Colorido e Suas Algemas
Há três grandes teóricos que legaram um rico acervo de obras sobre o desenvolvimento infantil: Lev Vygotsky, Henri Wallon e Jean Piaget. Eles abordam a complexidade do desenvolvimento infantil, com destaque para a influência do meio e da sociedade. Em linha com estes pensamentos, vamos explorar aqui quatro necessidades emocionais muito comuns no ser humano e como elas podem ser afetadas pela introdução contínua e precoce da maquiagem.
Pertencimento
As crianças têm uma necessidade inata de se sentirem parte de um grupo, de serem aceitas e valorizadas. A pressão social, cada vez mais amplificada pelas redes sociais, pode levar as crianças a buscarem a aprovação dos colegas através da aparência, incluindo o uso de maquiagem. Nas escolas isso tem sido comum. Falar sobre um glitter mais colorido, ou da cor da personagem do desenho preferido da turminha, surge como o fator de entrosamento; as unhas pintadas no tom que aquela criança mais gosta, se torna um outro atrativo. Assim vai sendo reforçado o sentimento de pertencimento, por vias artificiais que precisarão ser nutridas em dosagens cada vez mais extravagantes e continuadas.
Autoestima
A autoestima é construída ao longo da vida e está diretamente ligada à sensação de competência e valor pessoal. A imposição de padrões de beleza irreais, muitas vezes associados ao uso de maquiagem, pode minar a autoestima das crianças, fazendo-as se sentirem inadequadas e inseguras. Quando o sentimento de pertencimento está vinculado ao só de maquiagem, fica cada vez mais difícil a criança ou adolescente sair à rua sem qualquer “batonzinho”, “lápis ao olho”, “unhas pintadinhas”. O que nasceu como brincadeira, se tornou identidade.
Autonomia
As crianças precisam ter a oportunidade de explorar sua identidade e expressar sua individualidade, utilizando dos seus recursos naturais humanos. O uso de maquiagem pode limitar essa expressão, levando-as a adotar uma persona que não corresponde à sua verdadeira natureza. Este pode ser um dos elementos mais sutis desta relação, porque a persona (ou personagem) funciona como uma segunda identidade que esta criança ou adolescente cria, inconscientemente. É como uma imagem que passa a representar uma “outra versão dela” que “todos gostam”. Esta percepção foi sendo construída a partir do momento em que ela interpretou que, fazer parte dos grupinhos, ser elogiada pela família ou pelas pessoas na rua, está diretamente relacionado com estar maquiada (ou ter maquiagens). Dessa forma, ela passa a atribuir um sentidode extremo valor ao uso da maquiagem, que leva à crença de que só receberá os elogios que tanto deseja se utilizar destes recursos estéticos. Isso restringe, consideravelmente, a sua autonomia.
Segurança
A sensação de segurança é fundamental para o desenvolvimento saudável. O uso precoce de maquiagem pode gerar ansiedade e insegurança, especialmente se a criança sentir que sua aceitação social depende da sua aparência.
Você deve ter percebido que muitas destas necessidades humanas estão muito interligadas, de uma forma que a diferença entre elas é muito sutil. Por isso o campo mental de uma pessoa é território tão delicado para lidar e requer o máximo de cuidado para cultivar. Quando os primeiros impactos começam a surgir, é indispensável agir; mas como identificar uma alteração no comportamento dos filhos?
Identifique os Impactos Iniciais
Tão importante quanto se dar conta do risco, é ter aparato para identificar os comportamentos que já se apresentem alterados pela formação de uma autoimagem fragilizada na fase infantil. A psicopegadoga Luana Bernardes descreve em um artigo que:
De fato, estudos indicam que meninas que começam a usar maquiagem regularmente antes dos 10 anos têm uma probabilidade maior de desenvolver baixa autoestima e apresentar sintomas de ansiedade social na adolescência. Outros impactos observados incluem:
Redução do tempo de brincadeira livre: Essencial para o desenvolvimento cognitivo e social.
Aumento da autoconsciência negativa: Foco excessivo em “imperfeições” percebidas.
Deterioração das relações entre pares: Competição baseada em aparência em vez de habilidades ou personalidade.
Diminuição do interesse em atividades acadêmicas e extracurriculares não relacionadas à aparência. — Luana Bernardes (2024)
Muito cuidado, apenas, para não fazer a falsa associação do tipo: “ah! Mas minha filha (o) não está neste nível”, ou, “ah! Mas eu nunca vi minha filha(o) desse jeito não.” Estamos falando de um processo de evolução de um cenário que, tendo estes exemplos iniciais, obviamente, não começou desta forma. Estes cenários apresentados acima constituem um quadro em agravamento, e que pode ser evitado. Por isso é importante conversarmos sobre o que pode estar levando pais e cuidadores a permitirem isso.
Um Cenário Muito Diverso
É fundamental não criar uma atmosfera de julgamentos, mas considerar os possíveis motivos subjacentes à decisão dos pais, incluindo a fragilidade emocional deles mesmos — que comumente teve como origem o próprio período da infância ou adolescência destes atuais adultos. Vamos destacar sete potenciais motivos de fragilidade emocional que levam pais e cuidadores a permitirem e, até mesmo, incentivarem o uso da maquiagem:
Pressão social
Pais e cuidadores podem sentir uma pressão social intensa para que seus filhos se encaixem em padrões de beleza e sejam populares. Essa pressão pode levar à internalização de crenças negativas sobre a própria aparência e gerar um medo de que seus filhos sejam excluídos ou julgados. É o cenário de ter uma autoimagem sensível sobre si e não suportar a ideia de ser o pai ou mãe da criança ou adolescente excluída do seleto grupinho de outras crianças cujo os pais pertencem ao contexto social ao qual deseja se manter bem-vistos.
Insegurança
Alguns pais e cuidadores podem projetar suas próprias inseguranças sobre a aparência física em seus filhos, buscando que eles se sintam mais seguros e confiantes através da maquiagem.
A projeção é um mecanismo psicológico de defesa, descrito pela primeira vez por Sigmund Freud – considerado o pai da psicanálise. Ela é apresentada como uma forma de aliviar a ansiedade, na qual o indivíduo descarrega em outras pessoas sentimentos e impulsos que não consegue aceitar em si mesmo.
Dificuldade em dizer não
Pais e cuidadores podem ter dificuldades em estabelecer limites e dizer não aos seus filhos, especialmente quando se sentem culpados ou desejam agradá-los a qualquer custo.
Falta de conhecimento sobre o desenvolvimento infantil
A falta de conhecimento sobre os impactos psicológicos e sociais do uso precoce de maquiagem pode levar os pais a subestimar os riscos e a tomar decisões que não estão no melhor interesse de seus filhos.
Influência da mídia
A constante exposição à publicidade de produtos de beleza direcionados ao público infantil, bem como o consumo de informações vindas de influenciadores digitais, pode levar os pais a acreditar que a maquiagem é um produto essencial para a autoestima das crianças.
Entendimentos Diferentes Entre Pais
Estejam os pais casados ou não, há sempre diversidade de entendimento sobre os mais diferentes assuntos; e este não seria uma exceção. Esta cisão, quando não trabalhada de forma harmoniosa e dialogada, gera uma dualidade que também não é sadia para a evolução dos filhos. Um dos pais dá um direcionamento e o outro traz um norte diferente. Buscar, única e exclusivamente, o bem-estar e saúde da criança, fundamentando as orientações em pesquisas, estudos e fontes de conteúdo realmente embasadas, faz toda a diferença e evita que disputas de poder tomem o lugar na relação entre pais, pelo bem-viver e cuidados com os filhos.
Papel da Escola e da Comunidade
Escolas, profissionais de saúde e a comunidade em geral devem trabalhar em conjunto para promover a educação sobre a autoestima, a beleza natural e a importância de uma infância livre de pressões estéticas. A criação de espaços de diálogo e campanhas de fomento à conscientização de uma vida integralmente saudável é dever deste sistema conjunto que precisa, cada vez mais, fortalecer a comunicação com as famílias.
Alcançaremos um cenário de maior proteção às famílias a partir do momento em que essa consciência coletiva se sobrepor e coibir as práticas estéticas abusivas estimuladas, principalmente, por toda uma indústria de cosméticos, de forma premeditada e intencional. Para isso, é indispensável reconhecermos e retomarmos práticas mais saudáveis de relacionamento familiar, principalmente na forma como as figuras parentais cultivam os filhos. Vamos falar sobre algumas práticas.
A Importância de Promover a Autoestima Saudável
Em vez de se preocupar com a aparência física, é fundamental que os adultos ajudem as crianças a desenvolver uma autoestima saudável, baseada em suas qualidades e habilidades únicas. Algumas estratégias para promover a autoestima incluem:
Valorize a individualidade
Celebre as diferenças e encoraje as crianças a serem elas mesmas. Olhe em seus olhos quando uma situação delicada acontecer, reforçando o quanto é importante que elas expressem como estão se sentindo e o que realmente desejam fazer. Claro que a pessoa em fase adulta deve ajudar a criança a nomear estes sentimentos e necessidades, bem como apoiá-la na decisão do que será feito. Ao adulto cabe orientar e educar.
Ofereça apoio emocional
Esteja presente para ouvir e validar os sentimentos das crianças. Se você ainda não tem clareza sobre o que significa cada um dos sentimentos que o ser humano expressa, não tem problema. Busque pela lista de sentimentos e necessidades que a Comunicação Não Violenta (CNV) disponibiliza e, com esta conscientização, saberá como despertar este saber também em quem está na fase infantil sob seus cuidados.
Fomente a autonomia
Dê às crianças oportunidades para tomar decisões e experimentar novas coisas. Claro que aqui é indispensável ter clareza sobre o fato de que escolhas possuem seus níveis de complexidade e reflexos na vida de quem as faz. Desta forma, elenque quais são as circunstâncias que estão dentro do nível cognitivo e emocional de quem está criança. No entanto, quanto mais elementos você criar e estimular que ela aprenda a tomar decisões e vivenciar os resultados das escolhas feitas — sempre contando com as explicações necessárias ao longo do processo —, mais autonomia se desenvolve ao aumentar o nível de complexidade das escolhas que poderá tomar.
Promover um ambiente positivo
Criar um ambiente familiar e escolar seguro e acolhedor, onde as crianças se sintam amadas e valorizadas, é fundamental. Ao garantir que uma pessoa em estágio infantil possa se expressar livremente, expor suas emoções e comportamentos ainda não bem estruturados, elas se sentirão mais acolhidas e confiantes de que podem, efetivamente, contar com você. A confiança é a base do crescimento sadio.
Considerações
Escrever sobre um tema tão sensível para as sociedades do século XXI é um grande desafio. O debate sobre o uso de maquiagem na infância vai muito além de uma escolha estética. Trata-se de compreender os impactos emocionais e psicológicos dessa prática em uma fase da vida marcada pela formação da identidade e pelo aprendizado sobre si mesmo e o mundo. A infância é um período de descobertas e experimentações, mas também de grande vulnerabilidade, em que cada estímulo pode moldar crenças e comportamentos duradouros.
Proteger a criança da adultização precoce é preservar sua capacidade de vivenciar plenamente essa etapa única da vida. Para isso, é necessário que pais, educadores e toda a sociedade repensem práticas que, embora aparentemente inofensivas, podem gerar danos significativos à saúde emocional e ao bem-estar infantil.
Promover a aceitação dos traços individuais da beleza natural, fortalecer a autoestima e valorizar a singularidade de cada criança são ações fundamentais para construir um futuro mais equilibrado, no qual cada indivíduo se sinta livre para ser quem se é, sem depender de artifícios externos para validar seu valor. A responsabilidade é coletiva, e o momento de agir é agora. Afinal, uma infância saudável é a base para uma vida plena.
Referências Bibliográficas
- REINALDO, Gabirela; Das cavernas às prateleiras: sobre pigmentos, maquiagens e filtros; Universidade Federal do Ceará, Brasil; Programa de Estudos Pós-graduados em Comunicação e Semiótica – PUC-SP, 2021.
- Equipe PROUC; Universidade Federal Fluminense [site]
- DANTAS, Igor. Filhos não possuem manual. Horizontes do Ser, 2024.
- SILVA, julio; Uso de maquiagens e cosméticos expõe a adultização precoce das crianças; Jornal da USP, 2024.
- PEIXINHO, André Luiz; Abertura do Curso Autoconhecimento e Evolução; Federação Espírita do Estado da Bahia; YouTube, 2020.
- Adultização Infantil: Entenda o tema, os impactos no desenvolvimento de uma criança e como pais, professores e escolas podem lidar com esse problema; Revista APPAI Educar, 2023; Site.
- Guia de Orientação Sobre Prevenção à Sexualização Precoce na Primeira Infância; Ministério da Cidadania, 2022.
- BERNARDES, Luana; Minha filha pode usar maquiagem? Veja o que dizem os especialistas!; Sunkids, 2024.
- Google Gemini — o modelo de linguagem foi utilizado para coleta e organização de algumas informações neste artigo. Google AI. Gemini. 1.5 Flash. Google, 2024.


