Bem-Aventurados os Brandos e Pacíficos: do Monte Para a Vida

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Imagem de Jesus caminhando à frente e uma pessoa o seguindo

O singelo convite feito nesta leitura em que estamos conectados é o de permitirmos expandir a percepção sobre como a mensagem do Mestre Nazareno pode encontrar acolhida em nossos corações e consciências para florescer a cada novo dia. O Sermão do Monte fez resplandecer o mais belo final de tarde de que a Humanidade já desfrutou, como marca penetrante de um chamado que ecoa há milênios em nossas almas.

Neste artigo, dedicamos atenção a duas das virtudes apresentadas por Jesus, como conquistas intransferíveis, que o ser alcança como determinismo cósmico, à medida que realiza o seu movimento de ascese espiritual rumo à plenitude: a brandura e o pacifismo.

É proveitoso percebermos que há um fluxo energético que sustenta o movimento de abrandar o coração e pacificar a alma. Ele se chama “compreensão”. É pela busca por compreender o que está para além das falas, gestos ou silêncios que se torna possível estabelecer a mais profunda conexão consigo e, por extensão, conectar-se com outras pessoas. Compreensão é mais do que um termo; é mais do que uma palavra; é a virtude de observar, sem julgamentos, o nível evolutivo, o marco psicológico do ser com o qual convivemos.

Há um fluxo energético que sustenta o movimento de abrandar o coração e pacificar a alma…“

Com a energética do compreender como nutriente do nosso olhar, há de florescer a competência de enxergar a si mesmo, no movimento de centrar-se; ao outro, no movimento integrador do descentrar-se e, ao Divino, com o supercentrar-se, contemplando a excelsitude do muito além. Muito além dos sentidos, muito além da razão… o indefinido que se traduz em emoções para aqueles que experienciam aquela imorredoura tarde aos pés do Monte das Bem-Aventuranças, à beira do mar da Galileia.

Diante do pronunciamento do Mestre, “Bem-aventurados os brandos, porque eles herdarão a terra”! O “verso calou fundo na alma da multidão”, descreve-nos André (Peixinho, 2018, p. 40), em sua obra magistral As bem-aventuranças e outras belezas espirituais. O saudoso líder do movimento espírita na Bahia, professor, filósofo, psicólogo, revela-nos, na obra supracitada, como o testemunho do Cristo toca os corações presentes, cada um, dentro das suas possibilidades de apreensão.

Nem sempre há transparência na forma como agimos no cotidiano, seja no trato familiar, profissional ou social. O olhar, o falar… muitas vezes podem escamotear sentimentos, pensamentos, atitudes que o ser tenta, a todo o custo, suprimir, por não se achar capaz de lidar com as divergências ou julgamentos, mantendo na superfície do corpo a face maquiada pelo convencionalismo, que dilacera o próprio coração. No entanto, no acúmulo sistemático do que não pode ser dissipado ou consumido como nutriente da alma, chega ao limite das forças de contenção, e os detritos acumulados irrompem nos mais diversos comportamentos de explosão emocional, analisados por especialistas em saúde mental como quadros patológicos em curso, a martirizar aqueles que os mantiveram como meios de cultura na própria mente.

Porém, conforme nos assegura a benfeitora Joanna de Ângelis, com apoio incondicional de Divaldo Pereira Franco, na obra Conflitos existenciais, “A marcha do progresso é inexorável. Pode ser perturbada ou dificultada, nunca, porém, ficar retida em conveniências de indivíduos ou de grupos, paralisando o seu processo” (Franco, 2014, Prefácio). É então que, neste mesmo meio, a luz do evangelho dissipa os miasmas e faz florescer as sementes do trabalho sobre si mesmo. No movimento de ascese espiritual, o ser que caminha do ‘átomo ao arcanjo’ desvela-se, pouco a pouco, nas oportunidades do dia a dia, na observação das experiências, no meio em que se acha, no curso do próprio mapa providencial. É então que, pouco a pouco, como nos descreve André Luiz Peixinho, “quando a brandura permeia os pensamentos e as ações, as palavras consolam, os silêncios aliviam. A presença é compreensão, a ausência é recordação afável, a aproximação é sinergia, o afastamento é ampliação do campo de influência” (Peixinho, 2018, p. 41).

É também pela influência que distinguimos os que já expressam a conquista da paz. Ainda são numerosos os quadros da existência humana que revelam os desafios de se manter a harmonia, a partilha enobrecedora dos ideais ou a conquista incondicional da boa convivência. Ao longo do processo evolutivo, cada psiquismo vivencia os condicionamentos à busca pelo alimento, a luta pela sobrevivência, o fascínio pelo gozo, a satisfação de suas próprias demandas. Moveram-se os mais desprevenidos à sala escura do egocentrismo, em sensíveis cenários de sofrimento, no entanto é a própria forja dos interesses particulares que, aos poucos, rasga o véu da ignorância, se o próprio indivíduo já não se utiliza da sensatez no trato com a caminhada. Em um ou outro cenário, eis que irradia os primeiros raios do Espírito que se percebe detentor da paz…

“É também pela influência que distinguimos os que já expressam a conquista da paz…”

“Porque integrou suas diferentes vivências psíquicas, o seu pensar, o seu sentir e o seu agir são perfeitamente coordenados e movidos pelo desprendimento em relação às coisas do mundo. O pacificador passeia, em meio ao desequilíbrio, sem se deixar contaminar, sendo o arauto de um conjunto de ações, que o faz semeador da harmonia” (Peixinho, 2018, p. 67).

O pacificador não surge como fruto dos fantasiosos desejos ou de comportamentos superficiais. Tal metamorfose não será fruto de um salto quântico, mas do trato no cotidiano, do burilamento da própria manifestação, utilizando o mesmo cinzel que elaborou com as escolhas da vida. O ensaiar dos movimentos, o orientar da conduta, do apoio mútuo nas circunstâncias em que as ideias do grupo reclamam o orientador.

É nesse movimento evolucionário que aperfeiçoaremos a forma como nos relacionamos uns com os outros…”

Brando e pacificador, resplandecerá o mesmo ser que, até hoje, percebe-se recalcitrante nas estradas da criação. Filho de Deus, descobre, na dinâmica evolutiva, que a perfeição que é deve se revelar na forma como se manifesta, passo a passo, tomando consciência de que tal atributo se encontra em potência para logo florescer. É nesse movimento evolucionário que aperfeiçoaremos a forma como nos relacionamos uns com os outros, tornando-nos cocriadores cósmicos, capazes de fazer valer a vontade de Deus para que, assim como o Mestre Jesus, possamos viver a máxima “Eu e o Pai somos um”. Pela janela transparente que nós somos, refletiremos o Amor de Deus, Brandos e Pacíficos. Ainda além… Bem-Aventurados!

Sobre o Artigo

O presente artigo está disponível na vigésima quarta edição da Revista Espírita Deus Conosco, publicada em Dezembro de 2024 — de acesso livre ao público. A inspiração para tais reflexões vem da irretocável obra “As Bem-Aventuranças e Outras Belezas Espirituais”, de autoria do educador de almas André Luiz Peixinho.

Para mais aprofundamentos sobre a temática Autoconhecimento e Evolução, sugerimos a leitura de outros artigos publicados no site:


Referências Bibliográficas

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