Consciência de Ser e de Existir

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Você já se perguntou por que estamos aqui? Qual o verdadeiro propósito da nossa existência? Essas são questões que nos conduzem à exploração da Consciência de Ser e de Existir, um conceito fundamental na perspectiva evolucionária do Ser. Somos essencialmente criações divinas, filhos de Deus em um sentido metafísico profundo. Esta concepção tem implicações significativas para a compreensão da natureza humana atual e dos estágios futuros, pois, uma vez que somos criações divinas, possuímos atributos divinos já manifestados e outros que estão latentes, mas serão revelados através do processo evolutivo.

Neste artigo, nosso objetivo é alcançar maior clareza sobre esses aspectos que compreendem a gênese da vida e, com isso, sedimentar melhor a etapa inicial que compõe a trilha do autoconhecimento.

Despertando a Consciência de Ser e de Existir

Um dos pilares centrais na jornada de autoconhecimento — na perspectiva evolucionária Espírita — é a compreensão da Consciência de Ser e de Existir. Muitas pessoas acreditam que se trata da mesma coisa, porém os conceitos são distintos e a sua apreensão é fundamental para que haja uma relação mais sólida com essa perspectiva sobre a vida.

O Ser é a nossa individualidade, o que somos. Por este motivo, denominamos como essência — do latim “essentia”, relacionada à propriedade de algo, o que ele é fundamentalmente e sem a qual perde a sua identidade. Como esclarece o médico, psicólogo, filósofo e escritor André Luiz Peixinho, a essência “não está submetida à lógica do espaço e à presença no tempo. É o que dá a característica, a qualidade e, por isso mesmo, é imutável. Ou seja, é da sua característica não sofrer transformações.” (grifos meus)

Por isso, na cosmovisão Espírita, encontramos uma explicação didática de que não pode haver divisão de um mesmo Espírito, como se gerasse duas metades de um mesmo indivíduo. A analogia utilizada é justamente a do sol; o astro-rei em nosso sistema solar irradia em todos os sentidos deste conjunto de planetas, porém não se divide para isso.

A Imortalidade do Ser e de Existir

Além da indivisibilidade, a imortalidade é outra forte característica da essência, pela sua própria natureza. Essa compreensão abre campo para uma outra distinção importante de ser percebida: ainda que a essência seja imortal, por questões de inferência lógica, não poderia ser coetânea (da mesma época, criada no mesmo momento) da essência do Ser Criador (Deus).

Embora seja uma construção lógica, é possível que algumas pessoas se percebam intrigadas ao pensar como algo que tenha sido gerado não tenha um fim. Qual termo utilizar para isso?

Neste aspecto, André Luiz Peixinho esclarece que “temos uma nomenclatura para isso, e ainda não está muito generalizada. O ser supremo é eterno, mas o ser criado é eviterno. Isto é: ele tem uma gênese, mas ele não é aquele que termina só porque tem uma gênese.”

O Ser Criatura Reflete o Ser Criador

Admitir que essa essência é criada por um Ser Supremo — o qual chamamos Deus — leva a uma inferência direta: sendo divina a origem, é perfeita a essência, pois perfeito é o Criador. Ou seja, como filhos de Deus, possuímos em nós, em gérmen, a plenitude.

Diante dessa observação, é natural que surja a questão: o que nos falta, então, para expressarmos essa plenitude?

Como contextualiza André Luiz Peixinho, revisitando a linguagem do filósofo grego Aristóteles: “essa perfeição é uma potência. Ou seja, algo que está, que é, por si mesmo, mas não se manifesta, ainda.”

A perfeição inerente ao ser encontra-se em estado latente. Podemos utilizar como analogia uma semente: ela possui todos os atributos para se tornar uma árvore frondosa e frutífera, mas ainda não se manifesta desta forma, necessitando vivenciar a dinâmica do processo evolutivo que lhe é próprio. O mesmo acontece com o ser espiritual, pois será diante das vivências, em cada estágio da vida, que aprenderá a manifestar o que lhe é atributo.

Manifestações da Consciência de Ser e de Existir

Este manifestar também está entre as características do ser. É nestas manifestações que são geradas as formas através das quais este ser revela as suas potencialidades. É importante apenas ter clareza de que a manifestação em si não é a própria essência, mas um produto dela — sendo assim, chamamos de existência. Vamos aprofundar um pouco mais nisto.

A existência é o que emerge do ser, manifesta-se dele. Existe, logo aparece. E como aparece, também está sujeita a desaparecer. A sua característica é justamente sofrer mutações, não pode ser confundida com a essência que a cria.

Um exemplo neste cenário é a diferença entre o ser e os seus diversos tipos de corpo. O espírito está para a essência, como o corpo está para sua manifestação, portanto transitório. O ser espiritual é perfeito, imutável, já o corpo — seja ele físico ou sutil — sofre as mais diversas transformações, seja a sua concepção, desgaste, mutação e degeneração, dentro da sua característica de adaptabilidade.

Outras formas de manifestação são, em um contexto mais sutil, os pensamentos, emoções, os campos vibracionais, etc., que se comportam como veículos através dos quais o espírito (essência) se manifesta (existe).

Por isso, é indispensável termos clareza desta diferença entre o ser e o existir. Enquanto o ser é perfeito, o seu existir é perfectível — ou seja, sofre as transformações neste movimento de manifestar a plenitude do ser.

“Daí, alguns filósofos e psicólogos dizerem: ‘torne-se o que você já é’. Ou seja: torne-se na manifestação aquilo que você já é originalmente. Essência, criação divina, consciência imortal. Em suma, perfeição e potência.” (A.L. Peixinho, 2021)

Veículos de Manifestação da Consciência de Ser e de Existir

Para compreendermos melhor a relação entre o ser e alguns dos seus veículos de manifestação corporais, podemos recorrer a uma explicação extremamente didática do historiador, jurista e escritor Marcel Mariano. É uma forma de gerarmos clareza sobre as características do ser e do existir.

“Admitindo que nós sejamos um ovo, a casca é o corpo; a clara é o perispírito; e a gema é o espírito. O espírito, portanto, no seu processo evolutivo, tem uma camada que o reveste, uma energia que se aglutina em torno de um foco, do princípio, para dar-lhe uma anatomia, uma forma: o perispírito. Quanto menos evoluído ele é, mais grosseiro, mais chumbado, mais próximo das características materiais. Quanto mais evoluído, mais ele é luminoso, rarefeito, translúcido. Suas engrenagens se movimentam rapidamente; a frequência é alta. Quando encarnados, ganhamos uma camada mais grosseira que reveste esse perispírito e é por ele revestido: o corpo físico. Transitório, passageiro. Recebemos ele na concepção e perdemos ele por ocasião da morte biológica — porque é da sua natureza ser transitório.” (MARIANO Marcel, 2024)

Alcançarmos discernimento sobre este assunto, que possui significativa complexidade, nos permitirá dar passos iniciais em busca de um melhor aprofundamento sobre como se dá a nossa relação com o Divino, com Deus — a Unidade. À medida em que avançamos na descoberta de um fator, inúmeros outros se revelam ainda inacessíveis ao nosso estágio evolutivo atual, convidando-nos a maiores esforços.

O Movimento Evolutivo em Direção à Unidade

Existe uma história na rica cultura indiana que aborda, com grandiosa profundidade, esta compreensão a respeito do movimento que o ser realiza em direção a Deus, como mecanismo do seu processo evolutivo. O ”Sutratma” é frequentemente narrado, com peculiar delicadeza, pela filósofa e professora Lúcia Helena Galvão, que a apresenta da seguinte forma:

“Imagine um colar de contas, em pérola. Imagine que cada conta dessa é um ser humano. Uma delas é extremamente vaidosa, pensa ser a mais brilhante, a mais redonda, a mais capaz, a que quer aparecer, mostrar que é superior. Depois de muito tempo de experiência, de amadurecimento, essa conta começa a achar que essa vida de vaidade e superficialidade não faz mais sentido. Ela, então, começa a sentir necessidade de vida interior. Então, ela se vira para dentro para procurar algo interior. Dentro dela passa um fio de prata — porém, ela não está acostumada a reconhecer prata; ela só reconhece pérola. Então, ela olha pra dentro e sente como se tivesse um vazio. De tanto olhar para este vazio, de tanto buscar entendê-lo, em determinado momento ela acha um pedacinho de prata e diz: “olha! essa é a minha essência… vou contar para todo mundo, porque todo mundo deve ter uma essência também. “ Lá pelas tantas, essa pérola descobre que esse pedacinho de prata que passa por dentro dela e que passa por dentro de todas as outras pérolas é um só, é um único fio. Em um determinado momento, a Unidade deu estes pedacinhos para cada um — mas, no fundo, ela continua sendo a unidade. No dia em que nós tomarmos consciência disso, voltaremos ao Uno, voltaremos à casa do Pai com os braços repletos de frutos — que é toda consciência que a gente recolheu ao longo do caminho. Para mim, isso me parece — dentro da minha particular e limitada concepção da vida — bastante razoável. Porque eu percebo que quando você caminha em direção à unidade, potencializa todos os seus valores e todas as virtudes. Você já parou pra pensar? Quando caminho em direção à unidade, me torno mais fraterno, me torno mais amoroso, me torno mais solidário, me torno mais empático… ou seja, o caminho da unidade é o caminho evolutivo.”

Conclusão

Portanto, a jornada de autoconhecimento nos consagra como um processo de desvelar camadas que jazem latentes em nós, através do reconhecimento da nossa origem e da nossa potencialidade.

Este aspecto sobre como se desenrola a dinâmica evolutiva será objeto das reflexões que abordaremos em outro artigo, como forma de que os temas tratados neste texto possam ser melhor percebidos, compreendidos e internalizados por cada um de nós.


Referências Bibliográficas

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